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UGT Press - 0317 - O fenômemo Obama

Nº 0317 - 12 DE NOVEMBRO DE 2012

REPUBLICANOS VERSUS DEMOCRATAS: desde cedo, os brasileiros aprendem que nos Estados Unidos só existem dois partidos. Não é verdade, há outros pequenos, desprezíveis, sem votos. Também podem existir candidatos independentes. A tradição fala mais alto, são dois séculos de constitucionalidade. É lugar comum dizer que os democratas estão mais à esquerda dos republicanos, tanto quanto que a esquerda do PR (Partido Republicano) se aproxima da direita do PD (Partido Democrata). Também são comuns as observações de que o PD tem uma visão social mais aguda dos problemas americanos, enquanto o PR tem uma posição mais conservadora e liberal. Assimilamos essas coisas, mas elas são simplistas. A análise mais profunda ainda é a de Alexis de Tocqueville em "A democracia na América", escrito na primeira metade do século 19.

A POLÍTICA COMO ESPETÁCULO: a evolução do processo eleitoral americano, o coloca como o maior espetáculo político da Terra. Concebido em moldes conservadores, os eleitores escolhem delegados. Na prática, excepcionalmente, pode ocorrer de um candidato ter mais votos populares e perder a presidência. Aconteceu em 2000, quando George W. Bush ganhou no Colégio Eleitoral e perdeu na contagem do voto popular nacional para Al Gore. Foi o famoso imbróglio da Flórida. Ah, não esquecer que o povo já havia votado para escolher os candidatos dos dois partidos, nas famosas "primárias". Tudo foi organizado pelos "fundadores" (não há nenhuma "fundadora") e, para se ter uma ideia, basta dizer que o dia da votação foi determinado segundo a época das colheitas agrícolas (na terça-feira, após a primeira segunda-feira de novembro). Não pense, porém, que isso é rígido: há estados que admitem o voto antecipado ou pelo correio.

SISTEMA CONFUSO: para nós brasileiros, o sistema eleitoral americano é bastante confuso. Ocorre que, infelizmente, também para os americanos ele começa a dar sinais de esgarçamento. Numa análise de Adam Liptack, do The New York Times, "o campo de batalha eleitoral cada vez menor alterou a representação popular numa eleição. Existem evidências de que o sistema atual reduziu o número de eleitores, distorceu a política, debilitou a sua responsabilidade de votar e privou uma grande maioria de americanos do direito de votar" (reproduzido pelo Estadão, em 06-11). De fato, se prestarmos atenção, há cidades dos chamados "estados pêndulos" que receberam mais visitas dos candidatos do que toda uma região de outros grandes estados. Ou seja, havendo estados com tendências declaradas por determinado partido, sem grandes chances de reversão do eleitorado, eles simplesmente são abandonados pelos candidatos, que concentram os seus esforços em um grupo pequeno de estados. Neste ano, esses estados foram Flórida, Ohio, Virgínia, Wisconsin, Colorado, Iowa, Nevada e New Hampshire. Mitt Romney chegou a quebrar a tradição de não fazer campanha no dia da eleição e foi visitar alguns desses estados. A Folha de São Paulo (06-11) explica o que são "estados pêndulos": "aqueles que mudam de preferência partidária a cada eleição - diferentemente de estados como o Texas (tradicionalmente republicano) ou Nova York (democratas). Vencer neles é crucial para os candidatos".

PERIGOS LATENTES: a busca pelo voto nos Estados Unidos (preste atenção: não só nos Estados Unidos, em São Paulo, neste ano, também aconteceram situações semelhantes) tem algumas características que estão se agudizando no curso do tempo. Eis algumas: a) fundamentalismo religioso: cada vez mais a questão religiosa vem fazendo parte das agendas dos candidatos e temas como aborto, casamento gay, teoria da evolução nas escolas, etc., estão na ordem do dia; b) o papel da imprensa: a imprensa americana é independente, mas não imparcial. É comum os jornais admitirem suas preferências e, no dia da votação, todos aqueles que apoiavam Mitt Romney, parecendo combinado, estamparam manchetes contrárias a Obama; c) sistema substituindo a democracia direta: a origem do sistema americano, como dissemos acima, foi concebida para evitar a ditadura das massas, proteger a governabilidade dos extremos, está distorcendo a democracia direta, supostamente exercida pelo povo, e, nesta eleição, isso ficou muito evidente; d) as pesquisas como barômetro: nos Estados Unidos (e em outros países) há notória prevalência de estudos e pesquisas, fazendo com que os candidatos se postem de maneira similar, defendendo não o seu ideário ou pensamento, mas aquilo que o povo pensa ou deseja; e) descaracterização de direita e esquerda: essa similaridade de pensamento faz com que os candidatos convirjam para o centro do espectro político. Essa falsa dicotomia de esquerda e direita, tão ao gosto da imprensa, está desaparecendo, de maneira vagarosa, mas inexoravelmente; f) fatores extra-campo: essas circunstâncias todas ajudam a enfatizar outras diferenças, alheias aos ditames das idéias políticas principais. Diferenças como oratória (Obama arrasou neste quesito), estampa pessoal (foi muito marcante a diferença existente entre a brancura de Romney e a cor púrpura de Obama), religiões pessoais (não esquecer que Romney pertence à Igreja Mórmon e que seu avô saiu dos Estados Unidos por poligamia) e continuidade (os candidatos à reeleição gozam de franca presença na mídia, o que os deixa, em geral, mais populares).

ELEIÇÕES LONGE DA REALIDADE: todos esses fatores, circunstâncias e parâmetros levam o debate eleitoral para um campo lúdico, longe da realidade. Assim, qualquer dos eleitos, vai se deparar com uma realidade desagradável a partir de 1º de janeiro do próximo ano: aquilo que os americanos chamam de "fiscal cliff" (abismo fiscal). Situação que coloca o eleito diante de um problema muito grave: como conciliar a realidade fiscal, a necessidade de cortar gastos, com a expectativa de mais de cem milhões de eleitores, com as esperanças da população? Essa obrigatoriedade de ajustar o déficit fiscal, calculado em nada menos do que 600 bilhões de dólares, faz com que o drama americano se pareça exatamente com o da maioria dos países europeus. Isso realça o debate que já está nas páginas dos jornais: como solucionar a crise em meio à necessidade de austeridade. Obama herdou esse dilema e continua com ele, sem solução à vista.

BARACK OBAMA: pelo resultado da eleição, haverá a continuidade de Barack Obama, o presidente que venceu duas eleições contra todos os prognósticos possíveis e contra as mais torpes das perseguições públicas, inclusive racistas. Torna-se praticamente um mito. A maioria sabe que ele, de fato, recebeu uma herança maldita dos republicanos, representada pelo ex-presidente George W. Bush. O reconhecimento dessa herança e o fato de ele não ter podido muito nos primeiros quatro anos, provavelmente, o ajudou a permanecer na Casa Branca. Os sindicatos americanos - AFL-CIO, a central americana de trabalhadores, à frente - estão eufóricos. Os europeus não esconderam a sua torcida em favor de Obama e foi com alívio que se apresentaram frente às televisões na semana passada. Aqui, nos trópicos, a reação foi a mesma, desde o presidente da UGT (União Geral dos Trabalhadores do Brasil), Ricardo Patah, à presidente do Brasil, Dilma Rousseff, todos mostram entusiasmo pelo novo período de Obama à frente da Casa Branca. Seu desafio e de todos os líderes políticos da atualidade será como devolver ao mundo um ritmo razoável de crescimento econômico, capaz de reproduzir os empregos perdidos desde 2008.

RAZÕES DA VITÓRIA: as vitórias normalmente têm vários pais. Provavelmente, foi isso mesmo o que aconteceu no processo eleitoral americano. As pesquisas mostraram algumas tendências importantes: a) a predominância dos votos entre os latinos, acreditando-se que mais de 70% deles votaram em Obama; b) predominância quase total dos votos dos negros para Obama, o que era esperado e já havia ocorrido na eleição anterior; c) pouco difundida, fazendo parte do conteúdo de raras análises, está a defesa de Obama dos princípios e valores da sociedade americana, algo mais complexo para ser medido; d) o reconhecimento da "herança maldita", a situação econômica recebida de George W. Bush, com a percepção do americano médio de que, de fato, não se poderia fazer muito; e) a mensagem clara de Obama, apostando no futuro e na reconstrução da América, com ênfase para uma nova educação e um novo projeto de saúde, parcialmente aprovado. Em outras palavras: fazer ressurgir a "terra da oportunidade"; e f) o medo das inconstâncias de Mitt Romney, o desconhecimento sobre o que ele, de fato, faria à frente da Casa Branca. Em outras palavras, o medo da classe média americana em apostar na incerteza.

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Escrito por: caz.sinpefesp
Postado: 15/11/2012
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